Se Jesus era famoso, por que nenhum autor em sua época fala dele?

A questão da popularidade de Jesus no primeiro século é complexa e algumas pessoas acreditam que Jesus era tão conhecido e reverenciado naquela época quanto é hoje. Outros argumentam que vários fatores contribuíram para a falta de reconhecimento de Jesus durante sua vida.

Mas o que será que as evidências apontam?

O primeiro século é considerado um dos mais bem documentados períodos da história antiga[*/*], e a região da Judéia não era um local esquecido, era uma província agitada de vital importância estratégica para os romanos. Haviam muitos escritores, tanto romanos quanto judeus de grande influência, interesse e muito a dizer sobre a região e acontecimentos na época de Jesus. Até hoje temos volumes e volumes de dezenas de escritores detalhando eventos monótonos e mundanos na Palestina romana, incluindo vários messias judeus fracassados.

Vamos olhar alguns dos eventos mais espetaculares na história de Jesus. Qualquer um desses eventos teria um grande impacto na sociedade da época e seria conhecido por todos, mas curiosamente, eles parece sequer ter sido notados.

César realiza um censo tributário em todo o império Romano

Mateus coloca o nascimento de Jesus durante o reinado de Herodes, o Grande. Herodes morreu em 4 a.C., então o nascimento de Jesus teria que ter ocorrido antes dessa data, de acordo com Mateus. Lucas 2:1-2 descreve o nascimento de Jesus durante um censo ordenado por Augusto César, quando Quirino era governador da Síria. O problema é que o censo mais conhecido sob Quirino ocorreu em 6 d.C., uma década após a morte de Herodes.

Esse evento, na verdade, cria mais problemas do que resolve: por que Mateus , Marcos e João não mencionaram nada sobre esse evento de proporções gigantescas?

Naqueles dias, César Augusto publicou um decreto ordenando o recenseamento de todo o império romano. Este foi o primeiro recenseamento feito quando Quirino era governador da Síria. E todos iam para a sua cidade natal, a fim de alistar-se. Assim, José também foi da cidade de Nazaré da Galileia para a Judeia, para Belém, cidade de Davi, porque pertencia à casa e à linhagem de Davi. Lucas (2:1-4)

E mesmo que José tivesse sido forçado a ir de Nazaré a Belem, não faz sentido que ele também levasse sua esposa grávida de 9 meses. A viagem seria de aproximadamente 115km, uma viagem exaustiva de quatro ou cinco dias em cima de um burro, desconfortável mesmo se você não fosse uma mulher prestes a dar à luz. Mas o fato mais curioso de todos é que registros romano mostram que o primeiro censo universal não ocorreu até décadas depois disso, durante o reinado do imperador Vespasiano em 74 C.E.

Vale lembrar que os romanos eram notavelmente diligentes em registrar sua história, leis, eventos, e realizações. A cultura romana valorizava a história como uma forma de preservar a memória, legitimar o poder, e instruir as futuras gerações. Seria no mínimo estranho para eles não registrar um evento como um senso universal.

Herodes massacrou todos os meninos recém nascidos, mas ninguém notou?

Diferente de Lucas, Mateus afirma que Jesus nasceu durante o reinado de Herodes, mas o reino dele terminou em 4 AC e o censo mencionado por Lucas não poderia ter acontecido antes de 6DC, um intervalo de 10 anos, no mínimo.

E há outro problema, Herodes fez muitos inimigos perseguindo seu adversários políticos (reais e imaginários), e Flavio Josefo e outros historiadores da época tiveram prazer em catalogar seus crimes nos mínimos detalhes, por ex; quando Herodes teve dois de seus próprios filhos estrangulados – um incidente que desagradou aos patronos de Herodes em Roma.

Então Herodes, vendo que tinha sido iludido pelos magos, irritou-se muito, e mandou matar todos os meninos que havia em Belém, e em todos os seus contornos, de dois anos para baixo, segundo o tempo que diligentemente inquirira dos magos. Mateus 2:16

Será que o mesmo autor não notaria um crime tão absurdo quanto o massacre de todos os meninos recém nascidos na área ao redor de uma cidade a apenas 10km de Jerusalem? Além disso, não há nenhuma menção dessa história em qualquer narrativa, judeu, grega ou romana. A história não é encontrada nenhum dos outros Evangelhos – apenas o de Mateus.

Qual era o tamanho da fama de Jesus?

Alguns apologetas tentam defender a ausência de evidência externa para eventos contidos nos evangelhos afirmando que o ministério de Jesus foi notado mais por aqueles que o cercavam diretamente e que sua fama demorou um pouco para se espalhar. Será mesmo?

Os Evangelhos deixam claro que ao longo de sua carreira Jesus foi a estrela da Judéia no primeiro século. Mesmo se desconsiderarmos todos os eventos bizarros cercando seu nascimento; estrela milagrosa, anjos e reis magos portadores de presentes. Mateus diz que sua fama se espalhou por toda a Síria e como ele viajou por toda a região fazendo milagres, curando os enfermos e expulsando demônios, ele e sua comitiva foram seguidos por “grandes multidões” de pessoas da Galileia a Decápolis*, de Jerusalém, da Judéia e até além do Jordão. Marcos 5:20 diz que um homem começou a publicar (ou proclamar) na Decápolis as grandes coisas que Jesus teve feito por ele.

E a sua fama correu por toda a Síria, e traziam-lhe todos os que padeciam, acometidos de várias enfermidades e tormentos, os endemoninhados, os lunáticos, e os paralíticos, e ele os curava.E seguia-o uma grande multidão da Galiléia, de Decápolis, de Jerusalém, da Judéia, e de além do Jordão. Mateus 4:24,25

*uma liga de dez cidades na região leste do Império Romano, perto da fronteira da Judeia, durante o primeiro século

Algumas de suas curas mais importantes: ressuscitar a filha de Jairo, um dos oficiais da sinagoga,
(Mat. 9:18, Lucas 8: 41-42); a cura do servo de um centurião romano em Cafarnaum (Mt 8: 5-13) e filho de um oficial real (João 4: 46-53). Além disso, ele pregou para grandes multidões de cima a baixo na região da Judéia, surpreendendo a todos com seus ensinamentos.

Com toda essa atenção focada nele e em seu feitos incríveis do berço ao túmulo, como é que não temos nenhum registro contemporâneo de nada disso?

Depois de ter conquistado a admiração de oficiais reais, líderes e funcionários da sinagoga, como ele não foi levado para a corte real, ou mesmo para Roma?

Como é possível que nenhum de seus novos e surpreendentes ensinamentos foram escritos por alguém na época?

Não há nenhum vestígio ou menção das façanhas de Jesus até que os Evangelhos do Novo Testamento foram escritos décadas depois e não há menção de Jesus por quase um século após sua morte além dos evangelhos. Esta é uma omissão impressionante, e contradiz completamente a imagem que os Evangelhos nos passam.

A entrada de Jesus em Jerusalém.

Segundo o evangelho de Marcos, nas semanas antes de sua morte, Jesus vai a:Jerusalém (10:32-33), seguido por multidões de pessoas (10:1). Ele viaja da Galiléia (9:30) para Cafarnaum (9:33), cruza o Jordão para a Judéia (10:1), depois vai para Jericó (10:46), Betfagé e Betânea (11: 1) antes de ir para Jerusalém. Mais tarde, na Páscoa (14: 1), em Betânia novamente, na casa de Simão, o leproso, uma mulher desconhecida unge sua cabeça com óleo caro.

Estando Jesus em Betânia, reclinado à mesa na casa de um homem conhecido como Simão, o leproso, aproximou-se dele certa mulher com um frasco de alabastro contendo um perfume muito caro, feito de nardo puro. Ela quebrou o frasco e derramou o perfume sobre a cabeça de Jesus. - Marcos 14:3

No entanto, João conta uma história diferente: Jesus ressuscita Lázaro dos mortos, o que causa uma grande comoção (11: 45-48; 12: 9-11) e enfurece os chefes dos sacerdotes e Fariseus, que planejam matá-lo “Deste dia em diante” (11:53). Ele para de viajar abertamente e se esconde com seus discípulos na região selvagem da Judéia, em uma cidade montanhosa chamada Efraim (11:54) antes ir a casa de Lázaro em Betânia (12: 1), onde a irmã de Lázaro unge seus pés com óleo caro (12: 3).

Então Maria pegou um frasco de nardo puro, que era um perfume caro, derramou-o sobre os pés de Jesus e os enxugou com os seus cabelos. E a casa encheu-se com a fragrância do perfume. - João 12:3

A tremenda popularidade de Jesus atinge o pico e então, inexplicavelmente desaparece, até sua entrada triunfal em Jerusalém, quando toda a cidade exalta o profeta de Nazaré que rapidamente, e sem explicação, se voltam contra ele. Escritores que registraram eventos históricos de também ignoram este evento importante. Até aqueles que sabemos que estavam realmente em Jerusalém em torno deste Tempo.

Enquanto ele avançava, as gentes estendiam os seus mantos no caminho. Ao chegarem à descida para o monte das Oliveiras, todo o cortejo de discípulos louvava Deus com alegria por todos os milagres que viam, e exclamavam "Bendito seja o Rei que vem em nome do Senhor! Paz no céu! Glória nas alturas!" -Lc 21:36-38

E muitíssima gente estendia as suas vestes pelo caminho, e outros cortavam ramos de árvores e os espalhavam pelo caminho. E as multidões, tanto as que iam adiante como as que o seguiam, clamavam, dizendo: Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana nas alturas! E, entrando ele em Jerusalém, toda a cidade se alvoroçou, dizendo: Quem é este? E a multidão dizia: Este é Jesus, o Profeta de Nazaré da Galileia. -Mt 21:8-11

O julgamento de Jesus

Jesus foi supostamente questionado pelo Tribunal Superior do Sinédrio Judaico. Por Anás, o sogro do Sumo Sacerdote, pelo Rei Herodes e por Pôncio Pilatos. E não foram apenas essas celebridades locais que estiveram diretamente envolvidas, a estrela do show havia entrado em Jerusalém em um desfile que gerou comemoração em toda a cidade poucos dias antes.

As circunstâncias do julgamento eram tão ultrajante: primeiro uma prisão dramática, depois um julgamento ilegal à noite, má conduta legal desenfreada, e para completar o circo, a liberação de um criminoso notório que se desenrolou diante das multidões de Jerusalem. Quem poderia esquecer tal coisa? Parece que todo mundo.

A crucificação de Jesus

Leitores que ficam impressionados com o nível de detalhe nos relatos da execução de Jesus nos evangelhos deveriam levar alguns minutos a mais para realmente comparar esses detalhes. Primeiro ponto, Jesus é retratado com um psicológico totalmente diferente um do outro: angustiado e miserável em Marcos, cercado por efeitos especiais em Mateus, sereno em Lucas, grande e responsável em João. Os detalhes só pioram as coisas quando você compare as linhas do tempo dos três Evangelhos Sinópticos (Mateus, Marcos e Lucas) com João; eles são completamente incompatível.

De acordo com Marcos (e Mateus e Lucas, cujos evangelhos são baseados no seu) Jesus morre “na nona hora” (15h) na tarde da Páscoa do dia 15 de Nisan pelo calendário judaico. Mas no evangelho de João, Jesus sequer morre no mesmo dia. Em vez disso, João nos diz (três vezes) que Jesus é julgado e executado no primeiro dia portanto, no Dia da Preparação para a Páscoa, o dia 14 de nisã (19:14, 31, 42). Para piorar ainda mais as coisas, todos os quatro Evangelhos insistem que isso aconteceu em uma sexta-feira. Mas foi sexta-feira 14 ou sexta-feira 15?

Estes são apenas alguns dos exemplos mais suspeitos de eventos para os quais não temos evidência. Mas, como veremos mais tarde, existem ainda mais exemplos questionáveis ​​do Novo Testamento.

Mas então alguém percebeu
pelo menos os milagres, né?

A maioria dos cristãos também acredita que o nascimento e a morte de Jesus foram acompanhadas por fenômenos sobrenaturais dignos da primeira página de um jornal; como uma escuridão sobrenatural de 3 horas sobre “toda a terra” – um fenômeno solar sem precedentes que todo o mundo antigo teria percebido.

Então, profundas trevas caíram por sobre toda a terra, do meio-dia às três horas da tarde daquele dia. Mt27:45

Assim como a milagrosa estrela de Belém que curiosamente ninguém fora da bíblia registrou. Eventos astronômicos como esse não teriam sido ignorados em obras como História Natural de Plínio, Almagesto de Ptolomeu, obras de Tácito ou Suetônio, ou por um número de outros autores cujas obras não existem mais, mas com certeza teriam sido procuradas por cristãos buscando confirmação histórica de Jesus.

Também somos informados de que o véu do templo foi rasgado ao meio de cima para baixo, Jerusalém foi abalada por não um, mas dois terremotos, fortes o suficiente para partir pedras, e talvez meu detalhe favorito que foi deixado para trás por todos , a ressurreição em massa de muitos mortos que saíram de seus sepulcros e apareceram a muitos em Jerusalém.

E abriram-se os sepulcros, e muitos corpos de santos que dormiam foram ressuscitados;
E, saindo dos sepulcros, depois da ressurreição dele, entraram na cidade santa, e apareceram a muitos. Mt 21:52-53

É realmente plausível que todos os outros discípulos com excessão de Mateus esqueceram ou deixaram essa história de fora? Mateus foi realmente o único a mencionar um The Walking Dead acontecendo em Jerusalém?

Não vi nada, não ouvi nada, não sei de nada

Jesus teve uma carreira meteórica mas não deixa nenhum vestígio no registro por quase um século. Apenas um dos quatro escritores do Evangelho mencionam esses incríveis eventos. Os Evangelhos de Mateus e João terminam quando Jesus ainda estava na Terra.

O Evangelho de Marcos originalmente terminou no capítulo 16, versículo 8, com as mulheres aterrorizadas fugindo do tumba vazia, sem nenhuma história de ascensão. Versos 9-20 com o relato da ascensão foram adicionados muito mais tarde. Assim, dependemos do do autor de Atos e Lucas, que é a mesma pessoa. Então, o relato da ascensão em última análise, resume-se a apenas uma pessoa, que por sua própria admissão nem estava lá.

Tendo, pois, muitos empreendido pôr em ordem a narração dos fatos que entre nós se cumpriram, Segundo nos transmitiram os mesmos que os presenciaram desde oprincípio, e foram ministros da palavra, -Lucas 1:1-2

Céticos são frequentemente acusados de rejeitar injustamente os milagres nos Evangelhos imediatamente devido a seu chamado “preconceito naturalista” ou viés. É claro que essas mesmas pessoas não têm nenhum problema em usar seu próprio viés ou “preconceito naturalista” para descartar milagres de outras religiões diferentes da sua.

Quando exatamente ele viveu e morreu?

O que acontece se tentarmos traçar uma linha do tempo com a vida de Jesus? Nosso primeiro problema é onde precisar o início dessa linha, já que Mateus e Lucas dão informações conflitantes a cerca de seu nascimento. A maioria presume que Lucas está errado e aceita a cronologia de Mateus, o que nos coloca em torno de 8ac a 4ac.

Igualmente problemático é o ano em que Jesus morreu, é um jogo de adivinhação baseado em pistas contidas nos evangelhos. Tem que ser quando Pôncio Pilatos era prefeito da Judéia (de 26 ou 27 a cerca de 36 ou 37). Se João estiver certo (e todos os outros Evangelhos errados), também deveria ser em
um ano em que a Páscoa aconteça em um sábado. Mas a maioria estudiosos apoiam os Evangelhos Sinópticos, e rejeitam a narrativa de João.

Portanto, se for um ano em que a Páscoa caiu em uma sexta-feira, isso nos deixa duas possibilidades, 30 ou 33. Ou seja, a Igreja primitiva tinha tanta certeza quanto nós hoje em dia. Então, para fins de discussão, vamos situar a vida de Jesus aproximadamente entre 4 e 8 ac a 30 ou 33 dc.

Chame as testemunhas oculares

Muitas pessoas presumem que haviam dezenas de pessoas contemporâneas várias testemunhas históricas que mencionam Jesus, mas o número real é muito menor. Aqui estão alguns citado com mais frequência com um foco nos principais.

  • Flávio Josefo: 37 – c. 100
  • Clemente de Roma: Desconhecido – c. 98 – 102
  • Inácio de Antioquia: c. 35 – 107
  • Plínio, o Jovem: c. 62 – 113
  • Suetônio: c. 69 – c. 122
  • Tácito: c. 56 – c. 120
  • Policarpo de Esmirna: c. 69 – 155
  • Justino Mártir: c. 100 – 165
  • Luciano de Samósata: c. 125 – 180
  • Clemente de Alexandria: c. 150 – 211/216
  • Tertuliano: c. 155 – c. 240
  • Orígenes: c. 185 – c. 254
  • Cipriano de Cartago: c. 208 – 258
  • Eusébio de Cesareia: c. 263 – 339

Como você pode ver, nenhuma das supostas testemunhas oculares estavam em posição para dar um relato do tempo em que Jesus supostamente viveu, porque nenhum deles nasceu ainda durante o período em questão. E se isso já não bastasse, o fato é que nenhum dos chamados “testemunhos” impressiona muito. Poucos estão falando sobre Cristo em qualquer contexto. Por a maior parte, eles estão falando sobre cristãos. Os dois que fazem (ou parecem) até mesmo mencionar Cristo, ou seja, os de Tácito e Suetônio, são apenas trechos que mencionam o cristão comum. Eles não fazem nenhum grande pronunciamentos sobre a historicidade de Jesus (conforme discutido na sessão anterior).,

Agora vamos falar dos principais. Esses três abaixo são considerados a bala de prata contra o cético por muitos apologetas. Vamos entender o porquê e demonstrar que não é uma arma definitiva contra o ceticismo como eles gostam de pensar.

Flávio Josefo (37-100 d.C.):

Josefo foi um historiador judeu que escreveu “Antiguidades dos Judeus.” Nele, há uma passagem conhecida como Testimonium Flavianum (Antiguidades 18.3.3) que supostamente se refere a Jesus. No entanto, essa passagem é altamente debatida entre os estudiosos. Alguns acreditam que seja parcialmente autêntica com alterações posteriores, outros argumentam que pode ser uma falsificação completa.

"Havia neste tempo Jesus, um homem sábio [se é lícito chamá-lo de homem, porque ele foi o autor de coisas admiráveis, um professor tal que fazia os homens receberem a verdade com prazer]. Ele fez seguidores tanto entre os judeus como entre os gentios.[Ele era o Cristo.] E quando Pôncio Pilatos, seguindo a sugestão dos principais entre nós, condenou-o à cruz, os que o amaram no princípio não o esqueceram;[ porque ele apareceu a eles vivo novamente no terceiro dia; como os divinos profetas tinham previsto estas e milhares de outras coisas maravilhosas a respeito dele]. E a tribo dos cristãos, assim chamados por causa dele, não está extinta até hoje."

Nenhum autor faz alusão ao texto antes de Eusébio de Cesareia, (século IV), quando os escritos de Josefo vieram à luz através de fontes cristãs.

Muitos historiadores modernos tem argumentado que a passagem quebra a continuidade da narrativa e que são usadas palavras incomuns nos textos de Josefo, por exemplo Emilio Bossi escreve o seguinte:

"Esta passagem, ou período, está como que a esmo, em meio de um capítulo, sem conexão alguma com quanto a precede ou se lhe segue, alinhavada, por assim dizer, na descrição de um castigo militar infligido à populaça de Jerusalém e a dos amores de uma dama romana e de um homem que obtém os seus favores, fazendo-se passar, graças aos sacerdotes de Isis, por uma personificação do Deus Anúbis. Estes dois acontecimentos estão ligados pelo mesmo historiador com um outro, porque ao relatar o segundo chama-o outro acidente deplorável, de onde se depreende que esse outro acidente só pode relacionar-se com o primeiro, isto é, com a sedição popular e a repressão que se lhe seguiu."

Uma certa vez ouvi uma analogia sobre essa passagem que ficou comigo; o relato de Flavio Josefo sobre Jesus é como se você estivesse lendo um manual de uma máquina de lavar e no meio dele tem uma receita de bolo de fubá. Não faz sentido no contexto em que está inserida.

Tácito (56-120 d.C.)

O historiador romano Tácito refere-se à execução de Cristo por Pôncio Pilatos em suas “Anais” (Livro 15, Capítulo 44). Escrito por volta de 116 d.C., isso é considerado por muitos estudiosos como uma fonte romana independente que confirma a crucificação de Jesus. No entanto, não fornece detalhes do próprio julgamento.

O trecho em que o historiador romano Tácito menciona a execução de Cristo pode ser encontrado em suas “Anais,” Livro 15, Capítulo 44. A passagem é a seguinte:

"Consequentemente, para acabar com o rumor, Nero culpou e infligiu as mais requintadas torturas a uma classe odiada por suas abominações, chamada cristãos pelo populacho. Christus, de quem o nome teve origem, sofreu a pena extrema durante o reinado de Tibério, pelas mãos de um de nossos procuradores, Pôncio Pilatos, e uma superstição perniciosa, assim reprimida por um momento, irrompeu novamente, não apenas pela Judéia, fonte do mal, mas até mesmo por Roma, onde todas as coisas hediondas e vergonhosas de todas as partes do mundo encontram seu centro e se tornam populares."

Esta passagem é uma das poucas referências extra-bíblicas à crucificação de Jesus e é considerada por muitos estudiosos como uma evidência independente da execução de Jesus sob Pôncio Pilatos. No entanto, é importante notar que Tácito estava escrevendo várias décadas após os eventos descritos e sua principal preocupação nesta passagem era explicar como os cristãos foram feitos bodes expiatórios por Nero após o Grande Incêndio de Roma em 64 d.C.

Plínio, o Jovem (61-113 d.C.)

Plínio, um governador romano, escreveu cartas ao imperador Trajano buscando orientação sobre como lidar com os cristãos. Embora essas cartas forneçam informações sobre o cristianismo primitivo, elas não mencionam especificamente o julgamento de Jesus.

A carta de Plínio, o Jovem, ao imperador Trajano, na qual ele busca orientação sobre como lidar com os cristãos em sua província, foi escrita por volta do ano 112 d.C. Nesta carta, Plínio busca orientação sobre como lidar com os cristãos em sua província. Ele descreve como interrogou alguns cristãos e aprendeu sobre suas práticas, incluindo a adoração de Cristo. A passagem é a seguinte:

"Eles afirmaram, no entanto, que toda a sua culpa ou erro era que se reuniam em um determinado dia fixo antes do amanhecer e cantavam alternadamente um hino a Cristo como a um deus, e vinculavam-se por um juramento, não a algum crime, mas para não cometer fraudes, roubos ou adultérios, para não quebrar a fé e para não recusar devolver um depósito quando solicitado."

Esta passagem é valiosa para os historiadores, pois fornece uma visão de como um oficial romano enxergava os cristãos no início do século II. Mas não menciona especificamente Jesus ou eventos de sua vida, incluindo o julgamento ou crucificação e sua escrita é baseada em testemunho de terceiros.

Eles deveriam ter notado (e anotado) algo

Tão suspeito quanto o relato obscuro de alguns historiadores antigos é o silêncio de outros que deveriam ter escrito algo. Haviam muitos escritores no primeiro século, filósofos, historiadores e comentaristas que tiveram boa razão para notar (e anotar) Jesus, e não o fizeram.

Aqui está uma lista de supostas testemunhas históricas que deveriam ter notado e anotado alguma coisa a respeito do ministério de Jesus:

  1. Epicteto (c. 50 – 135)
    • Filósofo estoico grego, nasceu como escravo e tornou-se um influente pensador. Suas ideias são preservadas nas obras de seu pupilo Arriano.
  2. Pomponius Mela (data desconhecida)
    • Geógrafo romano, autor da obra “De Chorographia”, uma das primeiras descrições geográficas do mundo antigo.
  3. Martial (Marcial) (c. 40 – 102/104)
    • Poeta latino conhecido por seus epigramas satíricos e mordazes.
  4. Juvenal (c. 55 – c. 100)
    • Poeta romano famoso por suas sátiras mordazes sobre a sociedade romana.
  5. Sêneca, o Jovem (c. 4 a.C. – 65 d.C.)
    • Filósofo estoico, estadista e dramaturgo romano, tutor do imperador Nero.
  6. Gálio (Lucius Junius Gallio Annaeanus) (c. 5 a.C. – c. 65 d.C.)
    • Irmão de Sêneca, o Jovem, foi um político romano e procônsul da Acaia.
  7. Sêneca, o Ancião (c. 54 a.C. – c. 39 d.C.)
    • Retórico e escritor romano, pai de Sêneca, o Jovem.
  8. Plínio, o Velho (c. 23/24 – 79 d.C.)
    • Autor, naturalista e filósofo romano, conhecido por sua obra “História Natural”.
  9. Plutarco (c. 46 – c. 120)
    • Historiador e biógrafo grego, autor de “Vidas Paralelas”, uma série de biografias de homens famosos.
  10. Justus de Tiberíades (data desconhecida)
    • Historiador judeu do século I, cujas obras estão perdidas, mas foram referenciadas por outros autores.
  11. Filo de Alexandria (c. 20 a.C. – c. 50 d.C.)
    • Filósofo judeu-helenístico, combinou o judaísmo com a filosofia grega.
  12. Nicolau de Damasco (c. 64 a.C. – c. 25 d.C.)
    • Historiador, filósofo e amigo do rei Herodes, o Grande. Escreveu uma biografia de Augusto

E estes são apenas contemporâneos; Vamos falar brevemente sobre alguns dos mais importantes.

Sêneca, o Jovem (c. 4 a.C. – 65 d.C.)

Lúcio Annaeus Sêneca, um renomado filósofo estóico, escritor e líder influente do Império Romano, tinha motivos convincentes para mencionar Jesus em seus escritos, mas não o fez. Apesar de ser considerado o maior autor romano sobre ética, ele não abordou a maior mudança ética de sua época, associada a Jesus. Em seu livro sobre fenômenos naturais, ele registrou eclipses e outros eventos raros, mas não mencionou a Estrela de Belém, terremotos em Jerusalém após a morte de Jesus, ou a escuridão global durante a crucificação de Cristo. Além disso, em sua obra sobre superstição, Sêneca criticou todas as religiões conhecidas, incluindo o judaísmo, mas não falou do cristianismo, que estava se espalhando rapidamente. Essa omissão desconcertante fez com que Agostinho tentasse explicá-la em seu tratado “Cidade de Deus”. No século 4, alguns escribas cristãos chegaram a forjar cartas entre Sêneca e o apóstolo Paulo, na tentativa de associá-lo ao cristianismo.

Gálio

Lucius Junius Gallio Annaeanus (c. 5 a.C. – c. 65 d.C.) O silêncio de Sêneca sobre Jesus é destacado pelo fato de seu irmão mais velho, Junius Annaeus Gallio, ter sido mencionado na Bíblia. Gallio, como magistrado, julgou o caso do apóstolo Paulo, conforme descrito em Atos (18:12-17). É no mínimo intrigante que ele nunca tenha compartilhado com Sêneca informações sobre Jesus, uma figura que teria sido de interesse para ele. Sêneca não mostra qualquer conhecimento sobre cristãos ou Jesus, e curiosamente, nem mesmo Gallio, em Atos, parece conhecer Jesus. Isso é incoerente, considerando que Jesus era conhecido como um milagreiro que havia sido executado, ressuscitado e permanecido em Jerusalém por quarenta dias.

A estranha ausência não se limita aos gregos e Romanos, também há escritores da Judéia:

Justus de Tiberíades

Era da Galiléia e serviu como secretário pessoal do rei Herodes Agripa II, não mencionou Jesus em seus escritos, apesar de sua proximidade com a cidade natal de Jesus e sua cobertura da história do Reino de Judá durante o tempo de Jesus. Essa omissão é notável e é, na verdade, a principal razão pela qual a história de Justus é conhecida. Apenas fragmentos de seu trabalho sobrevivem hoje, mas o Patriarca de Constantinopla do século IX, Photius, expressou seu desagrado com a omissão em seus comentários sobre a cronologia de Justus.

“Eu li a cronologia de Justus de Tiberias estando sob os preconceitos judeus, como ele próprio também era judeu de nascimento, ele não faz a menor menção à aparência de Cristo, ou o que as coisas aconteceram com ele, ou de as obras maravilhosas que ele fez. ” - Photius, Bibliothec, Codex 33

Nicolau de Damasco

Viveu do final do século I a.C. ao início do século I d.C, era conhecido como tutor de figuras históricas como Cleópatra e Marco Antônio e amigo e conselheiro do rei Herodes, o Grande, escreveu uma história mundial em 144 livros. Essa obra, que se baseava fortemente nas memórias pessoais de Herodes, chegou até o final do reinado de Herodes, mas apenas alguns fragmentos sobrevivem hoje.

O que é notável é a ausência de qualquer menção à história do presépio em Mateus. Nicolau teria sido uma testemunha ocular dos eventos, como a visita dos homens sábios à corte de Herodes e a subsequente ira de Herodes, que levou ao massacre de meninos em Belém. Esses eventos seriam significativos demais para Nicolau omitir, especialmente considerando seu papel em defender as ações de Herodes.

A falta de qualquer comentário de Nicolau sobre a parte de Herodes no nascimento de Jesus é algo que seria muito significativo para os cristãos ignorarem, tornando a omissão ainda mais intrigante.

Filo de Alexandria

Ele viveu aproximadamente de 20 a.C. a 50 d.C., foi um renomado escritor, comentarista político, estadista judeu e o principal filósofo judeu do mundo greco-romano. Ele fundiu o pensamento judeu e grego para criar o judaísmo helenístico e foi um dos escritores mais prolíficos da antiguidade, com cerca de trinta de seus livros ainda existentes.

Apesar de sua extensa obra sobre filosofia judaica, política contemporânea e eventos importantes afetando os judeus, e seu interesse em religiões marginais, Filo nunca mencionou Jesus ou o cristianismo. Isso é notável, considerando que ele estava no lugar e no momento certo para ser uma testemunha histórica dos eventos da vida de Jesus.

Filo tinha fortes conexões com Jerusalém e sua família estava ligada à casa real da Judeia. Ele estava presente durante eventos significativos, como a entrada triunfante de Jesus em Jerusalém, sua crucificação, ressurreição, e os terremotos e escuridão sobrenatural que se seguiram. No entanto, ele nunca fez menção a qualquer um desses eventos.

A ausência de comentários de Filo sobre Jesus é particularmente intrigante, dada sua grande influência na teologia cristã. Ele foi fundamental na combinação do pensamento judaico com a ideia do “Logos” (a Palavra) e escreveu sobre o “pneuma” (sopro) como a inspiração de Deus. Essas ideias tiveram um impacto profundo no desenvolvimento da teologia cristã, incluindo a concepção da Trindade.

Considerações finais

A questão de por que Jesus não foi notado por historiadores que viveram próximo ou na mesma época que ele é no mínimo intrigante. Muitos relatos históricos contemporâneos do primeiro século ainda existem, além disso, vários desses escritores estavam no momento e local certos e teriam razões suficientes para escrever sobre a vida, ensinamentos, ministério e milagres de Jesus.

No entanto, não há corroboração externa para qualquer coisa escrita nos Evangelhos. Se Jesus realmente viveu, morreu e ressuscitou no início do primeiro século, isso não parece ter causado um impacto até o final do século. O que nos leva a questionar toda essa narrativa de que acreditar que Jesus não foi uma figura histórica é terraplanismo teológico ou histórico.

E você, o que acha? Jesus existiu mesmo, ou não?

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