Argumento do design: Probabilidade

O argumento pode ser resumido da seguinte forma; O surgimento do universo é tão incrivelmente improvável que deve ter havido alguma entidade sobrenatural para auxiliar no surgimento dele, além de ajustar os valores constantes para possibilitar o surgimento da vida. Mesmo que essa “entidade” seja indetectável e impossível de ser demonstrada. Vamos raciocinar em cima desse argumento um pouquinho…

Defensores da tese do design inteligente amam afirmar o quão raro é e o quanto o universo é ajustado perfeitamente para a vida. O problema inicial com essas afirmações é que nossa taxa de amostragem é de 1, ou seja, só temos o nosso universo como amostra, então como saber se esse não é o único universo possível? Como é possível saber que o mecanismo que faz com que universos venham a existir só é capaz de produzir universos similares ao nosso?

Então eles presumem que a probabilidade do universo vir a existir através de formas naturais é menor do que por causas sobrenaturais. Como é que eles conseguem calcular isso? Como se calcula probabilidades sobrenaturais?

O universo atual é o que foi possível. E se não fosse possível, não existiria. Portanto, os parâmetros não foram ajustados. São o que são porque são os que permitem que um universo com as características deste exista. Probabilidade não é a mesma coisa que impossibilidade. Se existe vida no universo, é porque é possível que a vida exista.

“Imagine uma poça d’água acordando um dia e pensando, “Que mundo interessante este em que me encontro, um buraco interessante, ele me serve direitinho, não? Na verdade, ele me serve perfeitamente bem, só pode ter sido feito para me ter dentro dele!”

– Douglas Adams

Mas será que o universo é ajustado para a vida?

A maior parte do universo é um vácuo perigoso que é ou escaldante ou congelante onde morreríamos em segundos. Na verdade, cerca de 99,999999% do universo não é adequado para a vida humana. Levamos bilhões de anos para evoluir e nos adaptar ao nosso planeta e a nossa estrela local. Dizer que o universo está ajustado para a vida humana é como dizer que o Maracanã foi feito para a reprodução do mofo crescendo no miolo do pão que caiu do bolso do torcedor há 5 minutos.

Em um universo ajustado para a vida cada estrela seria cercada por vários planetas habitáveis – cada um em perfeito equilíbrio. Eles não teriam placas tectônicas em movimento causando terremotos ou vulcões. Não existiriam condições climáticas perigosas e aleatórias e seríamos imunes à radiação UV, se ela existisse. Haveria uma proporção maior de terra para água, e uma porcentagem maior de água seria potável. Os requisitos para a vida humana não seriam tão minúsculos. Possivelmente até conseguiríamos sobreviver no espaço sideral e explorá-lo com facilidade. E embora esse tipo de universo possa não ser capaz de existir por causa de nossas leis atuais da física, isso não seria problema, porque seria mantido por Deus e Deus não se limita a nossas leis físicas.

Constantes do Universo

Eles muitas vezes apontam para a constante gravitacional afirmando que se ela variasse apenas 1 em 10^60 partes, nenhum de nós existiria. Mas aqui está o que um físico e cosmólogo, Dr. Sean Carroll, tem a dizer sobre isso:

“Um exemplo famoso que os teístas gostam de afirmar é que a taxa de expansão do universo primitivo está sintonizada em uma parte em dez elevado a 60. Essa é uma estimativa ingênua, feita no verso do envelope, com lápis e papel que você faria. Mas neste caso, você pode fazer melhor. Você pode entrar nas equações da relatividade geral, e há uma derivação correta e rigorosa da probabilidade. E quando você faz a mesma pergunta usando as equações corretas, descobre que a probabilidade é um. Todos, exceto um conjunto de medida zero, das cosmologias do universo primitivo têm a taxa de expansão certa para viver por um longo tempo e permitir que a vida exista.”
– Sean Carrol

Em um universo com mais de 100 bilhões de galáxias, cada uma contendo 100 bilhões de estrelas, muitas das quais têm vários planetas não é surpreendente que recentemente descobrimos milhares de exo-planetas com estimativas de até 40 bilhões apenas em nossa galáxia. Muitos deles orbitando em torno da zona habitável de uma estrela – também chamado de zona dos cachinhos dourados.

A mesma pergunta pode ser feita para eles, qual a probabilidade de que o seu deus específico exista? Quando estamos falando do universo, temos pelo menos um bom exemplo a nossa disposição mas quando estamos falando de deuses, não existe nenhum exemplo sólido e se seu livro sagrado for sua melhor “evidência”, isto não acrescenta muito à sua tese.

O próprio fato de que nosso universo sempre adere a constantes físicas e opera tão bem por conta própria, é a prova em si de que deus é desnecessário. Portanto, o que é, foi o que foi viável. E para isso, basta uma sucessão de eventos primordiais aleatórios. Só permanece o que é viável. É uma espécie de seleção natural no nível cósmico. 

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